segunda-feira, julho 10, 2006

palhaço

"Não sou eu que sou o palhaço, mas sim esta sociedade monstruosamente cínica e tão inconscientemente ingénua, que joga o jogo da seriedade para melhor esconder a sua loucura"

Salvador Dali

sábado, julho 08, 2006

Ódio?

"Ódio por ele? Não... Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto...

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Como um soturno e enorme Campo Santo!

Ah! Nunca mais amá-lo é já bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda.
Ódio por ele? Não... não vale a pena."

Florbela Espanca
Deixo aqui este poema, sem duvida um dos que mais gosto. Florbela é e será para mim uma extraordinária poetisa. Alguém que passou por tantas coisas menos boas e que as soube descrever de uma forma magnífica. Também é de louvar que passou por tantas tristezas mas que conseguiu também viver momentos felizes.
A sua vida foi realmente única. Aconselho a conhecer um pouco mais.
Talvez o que mais me impressione na sua vida, seja mesmo o seu fim. Florbela não resistiu, depois da morte do irmão e doente, trinta e seis anos depois de ter nascido, decide pôr fim à sua vida vida. Porquê? "A morte definitiva ou a morte transfiguradora? Mas que importa o que está para além? Seja o que for, será melhor que o mundo! Tudo será melhor do que esta vida!" (escreveu ela no seu diário). Florbela escolhe o seu dia de anos para isso pois julga ser a melhor prenda que pode dar a si própria. Isto, tal como alguns dos seus poemas (alguns porque também escreveu poemas "felizes") reflecte a inquietação, e a pequenez do mundo perante a sua grandiosidade.